As crianças e a morte


- Filhos, vocês sabem que a vovó estava doente no hospital, só que agora ela foi morar com o Papai do Céu, e nós não veremos mais a vovó.
- A bobó é minha amiga...
- É filha, a vovó é sua amiga e sempre vai ser.
- A vovó foi morar láaaaaaaaaaa nas nuvens, e vai fazer um tchibum na piscina do céu.
- Isso mesmo filho, ela foi morar num lugar muito lindo.

Foi assim o nosso diálogo no mesmo dia em que a minha mãe se foi. Era inevitável e necessário falar para o Miguel e a Rute da perda da vovó, já que eles sabiam que ela estava dodói no hospital, antes de adoecer ela estava presente de segunda a sexta com eles, e também eles viam a tristeza e agitação que foi aquele dia na nossa casa.

Uns dias depois, a Rute olha para o céu e diz:
- Mamãe, cadê a bobó?
- Está lá no céu filha.
- Mas num tô vendo...
-Filha, ela está bem no alto, depois das nuvens, e nós não conseguiremos vê-la, pois é muito longe, mas ela está num lugar muito bonito.

Esse dia senti uma certa preocupação, pois havia esperança no coraçãozinho dela de ver a vovó. Passados os dias, as semanas, as crianças não perguntam tanto da vovó, mais a Rute que vira e mexe diz que a vovó é amiga dela. Eles também já me pegaram chorando e perguntaram o porque, eu falo que estou com saudades da vovó, a gente se abraça, sei que eles entendem e logo passa.

O por que desse post? Outro dia eu conversava com uma das diretoras da escola sobre o desfralde da Rute, e contei sobre a minha mãe. A diretora disse que era um dado importante, que precisávamos ir devagar com ela, pois a perda era muito recente. Ela aproveitou e me deu um texto que trata da morte e como contar as crianças, mas não vou repassá-lo na íntegra, nem fazer referência a autora, por questões de segurança. Não quero aqui falar de crenças e religiosidade, mas de pontos que eu também julgo serem importantes quando perdemos pessoas queridas e temos crianças:

- Não devemos esconder a morte. "Como a pessoa sumiu sem que ela ter recebido qualquer explicação, poderá imaginar que o mesmo pode acontecer com seus pais ou qualquer outro querido." Esconder não vai evitar o sofrimento.

- Demonstre seus sentimentos. "Não precisamos disfarçar a tristeza que estamos sentindo, caso contrário, estaríamos passando a idéia de que a vida tem pouco valor."

- Não diga que a pessoa foi viajar, mas que a morte é irreversível e que a pessoa não voltará mais. A criança pode começar a ter medo de viajar, ou sentir medo se alguém querido também for viajar. Existe casos de crianças que ficam longos períodos nas janelas esperando a pessoa querida (falecida) voltar... Tudo é muito concreto e real para as crianças.

- Não diga que ela virou uma estrela. Outro dia alguém disse para a Rute que a vovó virou uma estrela, e o que aconteceu? Bingo! Ela parou na janela da cozinha e disse: "Mamãe, cadê a bobó? eu num tô vendo lá nos céus nas estelas. Cadê?" . E lá vou eu explicar que não conseguimos mais ver a vovó porque ela está em uma lugar bem longe... Deu muita dó, ela continuou por alguns minutos a olhar e procurar no céu a bobó, para ver se aquilo que eu falava era verdade...

- Não diga que a falecido está dormindo - a criança poderá passar a ter medo de dormir, e criamos mais um problema.

"Sei que cada um de nós tem a sua crença e quer passá-la para seu filho e da forma mais poética e menos traumática." Cabe aqui lembrar novamente da lógica e idade do seu filho.
A morte é algo natural, mas não tira de nós a ansiedade e tristeza, principalmente quando se vai alguém que amamos. Sejamos sinceros e amorosos com nossos filhos, porém "sem dissertarmos mais que do que ela quer ou está preparada para ouvir." Sinceridade e simplicidade como sempre com as crianças. Se for necessário comunicar a morte de alguém querido, diga que a pessoa morreu, mais que foi morar em outro lugar bem longe e bonito, e que nós não a veremos mais.
Enfim... tarefa difícil (e necessária) essa para nós pais... ...

3 comentários:

Cristiane disse...

Minha vó tb se foi em fevereiro e disse para a Ísis que ela foi morar com papai do céu, que lá era um lugar legal que ela ia gostar... passou um tempo e fui na casa da minha vó (é a casa da minha tia tb) e ela foi direto no quarto que era da minha vó. E me perguntou se a vóbisa não ia voltar para morar ali. Eu respondi que não, pois papai do céu queria ela com Ele... Passou uns tempos e ela perguntou de novo se Papai do céu não deixaria ela voltar um pouquinho e não mudei a resposta... Acho que é uma fase difícil, mas como você mesma disse temos que ser o mais próximo da verdade sem chocar e sem criar falsas expectativas... mandaram eu disser que ela foi para muito longe(mais muito longe um dia pode voltar) mantive minha conversa, hoje ela entra no quarto e diz que Papai do Céu está com a vóbisa ...

Entre rosas e princesas disse...

Gostei dos trechos do texto...muito importante para podermos saber como falar com nossos filhos pequenos quando alguém se vai. beijos saudosos Mimi.

Flávia Pan disse...

Que barra, Mimi...minha mãe tb fica com o Gabriel todas as tardes agora, pq até os 12 anos dele morávamos juntos...e me coloquei um pouco na sua situação...q barra, dói só em pensar. MAs é isso aí, q Deus continue confortanto seus corações!!

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