Post de ROSELY SAYÃO - "Nem tudo é "Êxito"


Que importância você dá para a educação formal e principalmente para a educação informal dos seus filhos? Segue para reflexão dos pais.


"Nem tudo é "Êxito"


Há coisas mais importantes no papel dos pais do que acompanhar a vida escolar do filho
ASSISTI a um comercial na televisão muito interessante.
Para falar a verdade, nem me lembro do produto anunciado, porque o desenvolvimento da narrativa me prendeu tanto a atenção que não fixei mais nada.
Na primeira cena do filme, aparece um garoto brincando em um parque. Ele não consegue se equilibrar em um dos brinquedos e a câmera mostra a sua queda. Com a feição expressando dor e susto, o menino é levado pela mãe ao atendimento médico.
A cena seguinte mostra essa mesma mãe em seu ambiente de trabalho com um semblante muito preocupado. Sua colega pergunta qual o motivo de sua preocupação e prontamente ela responde que é o filho.
"O que foi que ele aprontou desta vez?", pergunta a colega que, segundo sugere o comercial, já está acostumada com acontecimentos que envolvem o garoto e perturbam essa mãe. "É a escola. Ele ficou para recuperação de matemática" foi a resposta.
Aí está: os autores dessa peça publicitária conseguiram captar muito bem o que se passa na atualidade com quem tem filhos. Muitos pais estão realmente convencidos de que a coisa mais importante na vida das crianças e dos adolescentes é a vida escolar deles e seu aproveitamento nos estudos.
Decidimos, no mundo contemporâneo, que o preparo dos mais novos para o futuro quase que se resume ao êxito escolar.
Procissões de pais buscam escolas consideradas boas porque seus alunos conseguem entrar em boas faculdades ou notas altas em exames nacionais, como no Enem, por exemplo.
Um número cada vez maior de pais se sente obrigado a acompanhar pari passu os deveres escolares dos seus filhos a serem feitos em casa.
Não faltam pesquisas, depoimentos, campanhas que conclamam os pais a uma participação ativa na vida escolar dos filhos.
Já é hora de refletirmos a esse respeito. E, para isso, vamos começar com uma frase de Natalia Ginsburg extraída de "As pequenas virtudes".
"Estamos aqui (os pais) para reduzir a escola a seus limites humildes e estreitos; nada que possa hipotecar o futuro; uma simples oferta de ferramentas, entre as quais é possível escolher uma para desfrutar amanhã."
Segundo a autora, a importância exagerada que os pais costumam dar ao rendimento escolar do filho é fruto do respeito à pequena virtude do êxito, apenas isso.
Há coisas muito mais importantes no papel de mãe e de pai do que fazer as lições de casa com o filho e acompanhar sua vida escolar. Uma delas é socializar a criança.
Crianças precisam aprender com os pais que não vivem sozinhas, e sim em grupo. Isso significa, entre outras coisas, aprender a conviver com os outros de modo respeitoso, a se cuidar para se apresentar bem, a se comunicar de maneira adequada, a se comportar em ambientes diferentes.
Outra tarefa importante dos pais é a de dar educação moral aos filhos. Precisamos reconhecer que, hoje, boa parte das crianças se envergonha de não ter o que os colegas possuem, mas não sentem vergonha de fazer coisas que não podem fazer como furtar pequenos objetos, mentir, agredir e humilhar outras crianças e até adultos.
Do mesmo modo, não sentem constrangimento algum em perturbar pessoas que estão ao seu redor.
A formação do caráter dos filhos, a educação moral, o desenvolvimento de virtudes e o preparo para o convívio são aspectos da educação que valerão muito mais para as crianças no futuro do que o êxito escolar.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)


blogdaroselysayao.blog.uol.com.br

4 comentários:

Pâmela disse...

Mto bom Ro! Eu vivia isso diariamente trabalhando na escola . É triste ver pais que olham para isso. Certo dia uma aluna me disse, ao eu perguntar o porquê da bagunça se ela era tão boa aluna e tal, ela me disse que assim pelo menos os pais iam dar um pouco de atenção à ela enquanto sentavam para conversar do ocorrido! Me senti mto triste por ela, imaginei quão negligenciada poderia ser aquela criança. Era ótima aluna bagunceira exatamente para chamar a atenção dos pais.
É assim que se cria adultos frustrados, pois além da ed. informal ficar de lado, aprendem que só o sucesso ou o "ser melhor" traz felicidade.
bjoss

Cris :-) disse...

É verdade e como é importante essa educação informal até porque, se esta for feita, o bom rendimento na escola será uma consequência.
Uma criança amada, segura, amparada acredito que tenha mais facilidade em ter bom desempenho escolar.
Bj

Mônica disse...

Sabe outra coisa que me incomoda hj em dia: os pais de crianças tão pequenas que exigem esforços malucos das crianças na escola. Uma certa vez ouvi de uma mãe de um menino de 6 anos que estava indignada com a escola que tinha 3 horas de educação física por semana, e que essas horas deveriam ser trocadas por aulas de leitura, por exemplo!! Caramba! Não que eu não considere o conhecimento intelectual pouco importante, mas será que um menino desta idade não deveria se ocupar mais com brincadeiras e esporte e se PREOCUPAR menos com seu sucesso intelectual? Cada coisa no seu tempo...
Adoro as reflexões que seus posts nos trazem..
Bjs

Entre rosas e princesas disse...

Trabalho em uma escola de idomas e acompanho de perto pais que forçam a barra na questão educação e tentam trasferir seus deveres. Forçam a barra no sentido de acharem que a escola é que é a responsável por tudo até a educação e socialização que é dever dos pais em casa.
O curso tem duração de uma hora duas vezes por semana e os pais deixam os filhos aqui por mais de duas, três e até quatro horas. Se o filho faz algo errado eles culpam a escola pelo erro. Não assumem suas responsabilidades.
Dia desses acompanhei uma que dizia "vou tirar meu filho daqui porque ele está sendo discriminado pelos colegas. Aqui ninguém é melhor do que ele por ele ser mais pobre" Será que ela não ve que ela mesmo discrimina o filho. Se ela levantasse a auto estima do filho talvez ele não se sentisse discriminado por A e B. Depois que o filho cresce e não sabe se defender desse mundo e se sente frustrado os pais não sabem de quem é a culpa.
A nossa responsabilidade de pais vai muito mais além do que pagar uma escola cara e boa, proporcionar viagens ou dar tudo o que querem materialmente. Nós somos os responsáveis pela formação do caráter de nossos filhos, de ensilhar-lhes a saber lidar com este mundão louco.
Amo os textos da Rosely Sayão, e amo entrar em seu blog Ro.
beijosssss nas crias.

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